Maria Mãe de Deus e Discípula de Jesus

31
Dic

Um dos primeiros nomes que colocaram a Maria nas igrejas siríacas foi o de tecedora, a que tece a humanidade em Jesus. A que não rejeita nenhum dos fios que compõe o tecido do humano. Ela, a que abre conosco este novo ano 2024, a festa mais antiga mariana que se conhece em Ocidente. Já nas catacumbas que se encontram debaixo da cidade de Roma e onde se reuniam os primeiros cristãos para celebrar a missa, em tempos das perseguições, há pinturas com este nome: Maria, Mãe de Deus.

Quando, no ano 431, Nestório (arcebispo de Constantinopla) afirmou que Maria não era Mãe de Deus, se reuniram 200 bispos do mundo na cidade de Éfeso e iluminados pelo Espírito Santo declararam: A Virgem Maria sim é Mãe de Deus, porque seu Filho, Cristo, É Deus.

Celebrar esta festa mariana nos lembra a mensagem do Papa Francisco para a celebração do 56 dia mundial da paz, Ninguém pode salvar-se sozinho ou como se afirma nesta Igreja da Amazónia do Brasil, ninguém solta a mão de ninguém. Ela nos convida a participar desta ação de tecer a humanidade e a ser com ela, artesãs de compaixão. Vamos percorrer, de mãos dadas a ela, uma maneira de situar-nos que nos ajuda a amadurecer no amor, como mulheres consagradas, fecundas e ao serviço da Vida. Pois celebrar a Maria, Mãe de Deus, significa afirmar a Vida sendo tecedoras do humano.

Pensamos que precisamos ser boas para que Deus e os outros e outras nos queiram, nos custa aceitar que Deus não me ama porque seja boa, mais me ama pelo facto de ter-me regalado a existência. Seu amor precede minha vida e os meus passos, está no princípio, no meio e no final do caminho: esta foi a experiência de Maria.

Vamos abrir-nos a como fez Deus nela. Contemplar isto é fonte de grande esperança, porque foi um processo, pouco a pouco. Houve um tempo e um espaço e uma maneira de preparar sua vinda que mostram um Deus disponível a regalar-se e a surpreender-nos. Deus precisou a permissão de Maria, para fazer-se concreto em Jesus. Desde então toda mulher é potencialmente geradora do amor de Deus na terra. As mulheres têm um corpo aberto ao encontro, uma capacidade interna e externa de levar, libertar e nutrir a vida. É importante voltar a essa fonte que dá a capacidade de gestar vida, para sustentá-la e alimentá-la. Maria foi uma mulher disposta a escutar em seu interior. Precisamos aprender dela a dirigir a atenção a intimidade da alma e a repousar desde o nosso centro, ser também nós, mães deste ‘Deus conosco’.

Maria foi uma mulher disposta a escutar seu coração, a perceber o que acontecia em seu interior. Nenhuma coisa entra em nos desde fora, o conhecimento se encontra no nosso interior, as transformações acontecem no interior. Nesse nosso interior está a nossa essência.

Ali podemos desentender-nos da necessidade da aprovação dos outros, ali podemos ser nós mesmos. A escritora Esther Harding, depois de ter investigado o significado da palavra Virgem, explica desta maneira: Virgem é a mulher que se encontra em sintonia consigo mesma, que faz o que ela faz, não porque queira ser aceite, ou deseje ser estimada, ou procure atrair a atenção ou o amor doutra pessoa, mas porque o que faz é verdadeiro, porque concorda com seu ser mais íntimo. É este sim profundo da minha vida, esta aceitação, a que permite desenvolver as nossas potencialidades porque alguém acredita em nós, é poder dizer sim as novas dimensões que nascem, potencialidades de fecundidade e maternidade.

O mais importante em nossas vidas não é renunciar mas escolher, escolher bem desde o inicio por amor, como fez Maria. Estar aqui e agora de maneira incondicional, poder amar não só as pessoas mas o que é presente em nossa vida.

Maria, protagonista desta festa, uma vez mais deixa todo o espaço a Jesus. Maria acolhe as vozes dos pastores, homens e mulheres trabalhadores, pobres que tem alguma coisa importante a transmitir da parte do Outro e abraça a realidade com o coração silenciado. Ela se vai deixando fazer, de dia em dia mais receptiva e permeável as distintas maneiras de Deus. A alegria dos pastores, seu louvor, se unem ao que ela está a vivenciar.

Celebrar a maternidade de Maria é introduzir-nos também nessa corrente de bênção, de gratidão que nos chega desde a nossa fragilidade e vulnerabilidade, a do nosso mundo ferido e com falta de justiça e paz, nesses lugares, onde Deus nos mostra seu favor.

   Ao começar este novo ano 2024, coloquemos nossas vidas no coração de Jesus, cheio de compaixão, e confiemos ao amparo de Maria, mulher pacificada. Entreguemos a ela o tempo novo que se abre, passemos pelo coração o que vemos e ouvimos e peçamos a graça de descobrir em nosso caminhar quotidiano os pequenos sinais de Deus, entre os pequenos e simples.

Peçamos a graça de aprender de Maria do Magnificat, mãe, discípula e irmã, a que nos ensina a abençoar e cuidar dos outros; a que nos faz descobrir a ação do Misericordioso na profundeza da história, a que nos ajuda a descobrir o querer de Deus para as suas amadas criaturas. Tudo está interligado. Ninguém pode salvar-se sozinho.

Sejamos artesãs da paz! Tecedoras de compaixão!

Maria Imaculada, Mãe da Amazónia, Mãe de Jesus e Rainha da paz, interceda por nós e pelo mundo inteiro!

Ir. Sofía Quintáns Bouzada

Franciscana missionaria da Mãe do Divino Pastor

 Diocese de Roraima em Brasil